Foto: Mágna e Evaldo
Texto: Paulo Gomes
SOBRE OS BONS E OS MAUS... SOBRE O JOIO E O TRIGO
Trazemos em nós todas as incertezas que um ser humano pode ter. Mas, aqui dentro, jaz a única certeza – o que para alguns é o contrário do existir, do viver – a morte. Essa idéia que alimenta nossas almas e angustia a natureza humana, que se perde nas profundezas do nosso ser e que vagueia no coração endurecido daqueles que tentam vencê-la.
Que caminhos trilham os bons que tem antecipada sua viagem para outros planos? E que estradas são percorridas por tantos outros que permeiam pela materialidade das coisas e destituem-se de sua natureza humana e de sua semelhança com o criador?
Desse lado aqui da ponte, ficamos nós, fragilizados pela dor e fortalecidos pela percepção de que há uma outra vida que justifica a nossa semelhança ao Criador. Do lado de cá ficamos nós, sem termos o entendimento de sermos frutos ainda por amadurecer e que necessita de toda fonte de pureza para que possamos multiplicar o que há de bom dentro de cada ser humano e transformar em pó o que desprivilegia a nossa alma.
Ternas são as paragens do Senhor onde os bons frutos são colhidos por mãos que abençoam as também ternas almas que estarão um passo mais próximo do Pai. Ternas são as almas que frutificam amor, mesmo no silêncio dos dias todos que se aprofundam sob forma de saudade naqueles que ainda caminham na concretude do corpo. Terna é a esperança do reencontro, pois trazemos conosco a eternidade do espírito.
A toda pergunta a resposta dá-se no silêncio do dia e da noite que passamos sem termos feito se quer um ato de bondade pelo próximo que nos parece sempre tão distante. A resposta dá-se pelo pouco entendimento da fé que apaziguaria nossas angustias e elevaria o nosso ser a um outro plano.
Estamos ainda caminhando e nossa estrada é longa até descobrirmos se somos joio ou trigo, se bons ou maus. Mas, há uma certeza, somos um pouco de cada coisa. Em nós trazemos uma contradição que dissimula a nossa jornada.
Somos joio agora, pois, conseguimos perceber a presença do trigo que se consubstancia na figura humana que não mais cruzará a ponte real dos nossos dias para que possamos nos encontrar, como de costume, num espaço que se faz nascer escola e florescer vida.
Damos, pois, a ti, trigo, um nome que se marca no coração de cada pessoa que transmuda saudade em lágrima e tristeza em alegria. Precisamos sim fazer essa transformação do que é triste em alegre e do que é lúgubre em profundo sentimento de jornada cumprida, de esperança que se reveste na fé inabalável em Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois abençoado o coração que parte para um encontro maior, mesmo que num encurtamento da vida. Isso é só aparência a nossa imperfeição e a nossa falta de entendimento da natureza Divina... O trigo agora tem nome, e celebramos sob a imagem terna de Lígia. Lígia se faz lágrima que seja tão somente de saudade, e se faz pétala no roseiral de bondade que cerca a seara do Senhor.
Teu nome finda numa mistura de histórias que percorrem dentro de nosso ser o âmago do que realmente somos. Apenas teu nome... Tua alma brinca na inocência infantil do coração puro que acena e ora por todos nós que ainda aqui caminhamos. Somos ainda joio, enquanto fostes trigo. Fostes a bondade, enquanto ainda somos... Frutos por amadurecer.
E no silêncio que se faz, descobrimos que por aquela ponte material que constituía o nosso encontro diário, teus passos não mais deixarão qualquer vestígio da tua presença. Porém, aqui dentro de cada coração que se purifica com tua partida nasce um novo ser que aprende a transformar joio em trigo, tristeza em alegria e desespero em esperança.
Se a saudade puder ser expressa em palavras, essa é a expressão maior de toda saudade que cada um dos que fazem a Escola Municipal Professora Trindade Campelo tem e sempre terá de Lígia.
Não sabemos falar sobre os bons e os maus, sobre o joio e o trigo. Porém, aprendemos a distingui-los... Trigo que se fez Lígia, Lígia que se faz trigo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário